Em 1824, a população do Rio Grande do Sul tinha cerca de 60 mil pessoas, de acordo com dados históricos do censo nacional. Nos dias de hoje, a título de comparação, totaliza 10,88 milhões. Assim, entre os séculos 19 e 20, a região sul do Brasil sofria com um problema chamado “vazio demográfico”, caracterizado pela falta de exploração de recursos naturais e atividades de transformação. Por mais que houvesse muitas terras produtivas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, havia uma baixa densidade demográfica nessa parte do país. Nesse sentido, com o intuito de povoar e desenvolver a região sul do país, o Governo Imperial do Brasil, comandado por dom Pedro I, estimulou a vinda de imigrantes alemães.
A primazia de São Leopoldo-RS
Os candidatos recrutados viviam em um continente abalado pelas Guerras Napoleônicas, pela Revolução Industrial e pelo decorrente empobrecimento da zona rural. De acordo com o site Brasil-Alemanha.com, os primeiros imigrantes alemães chegaram ao Rio Grande do Sul em 25.07.1824, vindos de diversas regiões da Alemanha. Os colonos somavam 39 pessoas, sendo 33 evangélicos luteranos e 6 católicos. A data de chegada corresponde à fundação de São Leopoldo, de onde vem o título “Berço da Colonização Alemã no Brasil”, reconhecida pela Lei Federal n.º 12394/2011.
Aos poucos, outros imigrantes alemães ocuparam os vales e serras gaúchas, lançando progresso através da dedicação ao trabalho e à diversificação produtiva, tendo em conta o domínio de diversas técnicas profissionais, como sapateiros, alfaiates, carpinteiros, ferreiros, entre outras, fato que possibilitou o desenvolvimento do embrião industrial do Rio Grande do Sul.
O dote de Dona Francisca
Como fruto de seu noivado com François Ferdinand Philippe Louis Marie d’Orléans, Príncipe de Joinville – filho de Luís Filipe I, de França, o dito Rei dos Franceses – a princesa D. Francisca de Bragança (cujo nome, por extenso, era Francisca Carolina Joana Carlota Leopoldina Romana Xavier de Paula Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga), filha do imperador D. Pedro I e irmã de D. Pedro II, recebeu um expressivo dote. Seu pai, então chefe do Governo Imperial Brasileiro, sancionou a Lei nº 166, de 29 de setembro de 1840, garantindo à princesa um patrimônio de terras pertencentes à Nação, constituído de 25 léguas quadradas e área demarcada de 155.812 hectares. As terras, até então pertencentes à nação, estavam situadas na Província de Santa Catarina. A região era quase inteiramente virgem, apenas encontrando-se alguns moradores na orla marítima e no planalto de Campo Alegre.
Em 1849, Léonce Aubé, procurador dos Príncipes de Joinville, firmou contrato com o senador Christian Mathias Schroeder, de Hamburgo, para a fundação e colonização das terras. São entregues gratuitamente ao senador Schroeder (ou à Companhia que ele teria de organizar) 8 léguas quadradas de terras, obrigando-o a colonizá-las com imigrantes trazidos da Europa, ficando a seu cargo todo o trabalho de organização da Colônia.
A organização da Companhia pelo senador Schroeder, com o nome de “Hamburger Kolonisations Verein von 1849” (Sociedade Colonizadora de Hamburgo, de 1849) não foi muito fácil. Da data do contrato, até a vinda dos primeiros imigrantes, se passaram mais de dois anos.
A barca Colon, procedente de Hamburgo, trouxe os primeiros 124 imigrantes para o porto de São Francisco, no litoral catarinense. A chegada aconteceu em 8 de março de 1851. Carlos Ficker, em seu livro “História de Joinville – Crônicas da Colônia Dona Francisca” revela que os imigrantes – homens, mulheres e crianças – pisaram o solo da Colônia Dona Francisca (hoje, Joinville-SC) no dia seguinte, 9 de março, data em que se passou a considerar como o marco oficial de fundação da cidade.
Distinção histórica de Rio Negro, Paraná
A exemplo de São Leopoldo, a cidade de Rio Negro, em nosso Estado, foi reconhecida como o ‘‘Berço da Imigração Alemã, no Paraná’’. As historiadoras Divinamir de Oliveira Pinto e Marli Ulkmann Portes (“in” Imigração Alemã no Paraná – 180 anos: 1829-2009 – Ed. Germânica, 2011) relatam que o navio “Charlotte Louise” partiu do porto de Bremen, Prússia – depois, Alemanha unificada -, em 30 de junho de 1828. O navio aportou em Santos-SP. Daí, os imigrantes dedicados à colonização partiram em navio de cabotagem em direção à Paranaguá, onde chegaram em 30 de novembro do mesmo ano. Uma verdadeira odisseia obrigou esses viajantes a subir a Serra do Mar até Morretes, alcançar Curitiba, passar pela Vila dos Príncipes (atual cidade de Lapa-PR) e dirigir-se à “Capela da Estrada da Mata”, antigo acampamento de tropeiros (hoje, Rio Negro). Chegaram ao destino em meados de fevereiro de 1829. Do grupo de 20 imigrantes que se instalaram as margens do rio Negro estava Leonard Schultes, a mulher Suzana Mores – casados na cidade de Trier, em 1817, três filhos e a sogra. Para não deixar em branco, informo que Leonard foi meu tataravô paterno.
A força da imigração europeia
À guisa de contextualização, cerca de 40 milhões de europeus abandonaram definitivamente continente europeu entre 1800 e 1930. Após a fundação da “Sociedade Colonizadora de Hamburgo”, de 1849, partiam em quantidades cada vez maiores, chegando de 50 a 100 mil indivíduos por ano, com o máximo de aproximadamente 220 mil, entre 1880 e 1885. O Brasil foi extremamente beneficiado pela contribuição da mão-de-obra desses pioneiros a quem devemos consideração e reconhecimento.