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Educação

As múltiplas mulheres da diretoria do Colégio Estadual Paula Gomes

Uma das coisas que distinguem a sala da diretoria da Escola Estadual Paula Gomes, no bairro Santa Quitéria, em Curitiba, é a fila para conversar com Cristina Maria da Costa Felisbino de Matos, diretora da instituição.

No corre-corre da rotina à qual está acostumada, ela recebe demandas, atende ligações, assina documentos e oferece café.

Tudo isso sem perder o foco na administração de uma escola estadual com 600 alunos.

Tudo o que acontece nas dependências da unidade chega rápido à sua mesa da diretora.

“Aqui nada fica solto. Ser diretora é ter visão panorâmica do que acontece, todos os dias, todas as horas, dentro da escola”, afirma.

Sorridente e expansiva, Cristina tem voz potente e riso fácil.

Nascida em Bandeirantes, no Norte Pioneiro, é diretora na rede estadual há 11 anos e não revela a idade nem por decreto:

“Sou como a Glória Maria. Não conto a idade de jeito nenhum”.

Com longa trajetória nas salas de aula do Estado, antes da direção da Paula Gomes ela atuou como professora de matemática desde o ano de 1998, quando foi aprovada no concurso – ainda no município de Andirá – onde morava.

“A vinda para Curitiba foi dolorosa porque tive que deixar meus pais, meus  irmãos e a vida que eu mais amava no Interior. Eu sabia, no entanto, que era aqui que estariam as oportunidades certas para mim”, relembra.

De fato, mal imaginaria a jovem professora que seria em Curitiba que ela se descobriria como profissional, mulher e mãe.

De caráter forte, ao melhor estilo “Rochelle”, do seriado norte-americano “Todo o Mundo Odeia o Chris”, Cristina colhe os frutos da construção de uma personalidade resoluta e decidida, que ao longo dos anos possibilitou o desenvolvimento de um trabalho cuja ordem e o compromisso sempre foram norte.

“Nada é de graça. Tudo é uma construção e, até alcançar os resultados que temos hoje, foram muitos anos em análise, buscando compreender melhor a mim mesma e ao universo pedagógico no qual escolhi trabalhar”, revela.

Os bons frutos vieram.

Para se ter ideia, em 2012  – quando assumiu a direção – a Escola Estadual Paula Gomes vivenciou um verdadeiro boom no desempenho acadêmico dos estudantes, resultado do olhar atento da diretora e também do trabalho intenso de sua equipe.

“Quando fui chamada para assumir a diretoria, a imagem da escola estava um pouco enfraquecida junto à comunidade. A estrutura estava prejudicada e os índices de evasão eram altos”, relembra.

A situação logo mudaria.

Com a implementação da modalidade de ensino em tempo integral na escola e a melhora na qualidade do ensino oferecido, o interesse dos estudantes aumentou, trazendo resultados expressivos nos indicadores que mensuram o desempenho escolar.

“No último levantamento, a escola apresentou um aumento de quase 80% nos resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Em 2012, por exemplo, a nota era de 3,2 para o ensino fundamental. O levantamento mais recente aponta que esse número saltou para 5,0 no ano passado. O mesmo vale para o ensino médio, que registrou uma nota de 4,7 no Ideb”, relata a diretora.

Cristina faz o estilo “faço mais e falo menos”.

Tanto é verdade que as duas condecorações com as quais foi reconhecida publicamente em homenagens cívicas, estão – segundo ela própria – “enfiadas em alguma gaveta”.

“Eu tenho esse problema. Ao invés de pendurar na parede, guardo num canto e lá eles ficam”, afirma a diretora que foi homenageada, em 2011, com o prêmio João Crisóstomo.

Entregue pela Câmara Municipal de Curitiba, a premiação se destina ao reconhecimento do trabalho dos profissionais das áreas de educação e cultura em Curitiba.

Já em 2017, ela recebeu o Prêmio de Gestão Paraná – desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação, que, à época, selecionou escolas que desenvolveram projetos pedagógicos inovadores e praticaram gestão participativa dos recursos públicos, além de terem promovido o envolvimento da comunidade no cotidiano escolar.

UMA MULHER, OUTRAS VERSÕES – Pelos corredores da escola é fácil perceber o carinho e respeito que os alunos e colaboradores rendem à diretora.

Enquanto anda de um lado a outro, num rápido ‘tour’ pelo colégio, apertos de mão, abraços, sorrisos e mais demandas a resolver pipocam conforme passa pelos departamentos.

Das portas do Paula Gomes para fora, entretanto, anseios, dilemas e desafios comuns a todas as mulheres também fazem parte da rotina de Cristina.

Há cinco anos, quando ela e o marido optaram por adotar um filho após inúmeras tentativas de engravidar, a ideia era recorrer à adoção tardia: termo utilizado em referência à adoção de crianças mais velhas.

“Nossa opção inicial era pela adoção de uma só criança. Porém, quando fizemos os primeiros contatos com S. e M., que eram irmãs e aguardavam para serem adotadas, sabíamos que aquelas eram nossas filhas”, relembra.

O processo, que durou seis meses, incluiu visitas semanais, passeios em família e as primeiras visitas à nova casa.

Concluída a adoção, novas adaptações. “Não tive um parto doloroso e não perdi noites de sono. Não amamentei ou passei pelas mudanças de uma gestação. Mesmo assim, o processo de adaptação das minhas filhas representou este nascimento: meu e delas”, afirma.

Segundo Cristina, a associação dos papéis de mãe e diretora foi inevitável.

“Ser diretora me ajudou a compreender que boa parte do comportamento inicial, durante o processo de adaptação, não era pessoal. Tratava-se do único meio de interação que elas conheciam. Naquele momento, por mais desafiador que fosse, eu sabia que aquela era a única reação possível para elas e, como na escola, não seria ‘no grito’ que a situação mudaria, mas sim, com diálogo e muita paciência: assim como acontece na sala da diretora”, relembra.

Nessa multitarefa da vida, Cristina deixa um conselho especial neste Dia Internacional da Mulher.

“Se tem algo que aprendi, principalmente depois da adoção das meninas, foi a desacelerar. Mães, assim como professoras, diretoras, advogadas, médicas, merendeiras, donas de casa e quase todas as mulheres hoje em dia, tendem a fazer tudo correndo. Meu conselho é: dê tempo ao tempo. Seus filhos vão crescer rápido, seus anos de trabalho passarão depressa. Aprenda – assim como eu tive que aprender – a viver cada etapa sem apressar as coisas”, finaliza.

REDE ESTADUAL – s mulheres representam 75% do corpo de professores da rede estadual, onde elas têm voz e vez. No Mês da Mulher, a Secretaria da Educação, por meio da Agência Estadual de Notícias, apresenta cinco histórias inspiradoras protagonizadas por professoras, pedagogas, diretoras, colaboradoras e merendeiras da rede estadual.

A primeira foi com Sandra Silva Baldissera, professora de Biologia do Colégio Estadual Rui Barbosa (CERB), do município de Nova Laranjeiras, que usa jornalismo para dar voz aos alunos

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