São Paulo, fevereiro de 2023 – Nas últimas semanas, empresas como Meta, Google, Microsoft, Amazon e Spotify, e dezenas de outras startups, anunciaram que iriam demitir uma parcela de seus colaboradores, afetando os escritórios do mundo inteiro. Até o momento, foram mais de 40 mil funcionários afetados pelas grandes empresas, e este número tende a crescer.
Embora este tipo de decisão, de demitir em massa, caiba mais ao momento financeiro e econômico de cada empresa, existe um ponto de que tem incomodado bastante colaboradores que tenham sido demitidos: a falta de humanização no desligamento dos funcionários.
De acordo com Tonia Casarin, especialista em desenvolvimento de liderança humana e autora do best seller “Liderança Exponencial– A transformação humana é o moto dos líderes do futuro”, devido ao alto número de demissões, os líderes se omitem e não conduzem o processo como ele deveria ser, de uma forma transparente, sem causar alardes ou mesmo respeitosa.
“Em momentos delicados como esse, é fundamental agir com transparência. Quanto mais transparente a empresa e o líder forem, menos darão chance para rumores entre os colaboradores, com disseminação de informações infundadas que instauram um clima de desconfiança, medo e alarde”, defende a autora.
Além disso, a especialista aponta 3 comportamentos que devem ser esperados, no mínimo, de um líder nessa situação delicada:
Credibilidade
É normal que notícias sejam vazadas pelos departamentos, principalmente entre colaboradores. Porém, o que tem se percebido nestes casos de demissões em massa é que as empresas comunicam em massa por e-mail ou ainda, retiram o acesso dos colaboradores afetados ao computador. “Instaura-se um clima de medo em que o colaborador não consegue mais contato com as pessoas do seu time nem mesmo enviar um e-mail de despedida para os colegas.” , explica Tonia.
Ela ressalta que, muitas vezes, as lideranças não são informadas de muitos detalhes, pois até o cargo da liderança pode estar sob ameaça. “Vale destacar que, quando um navio afunda, o capitão é sempre o último a abandoná-lo, mesmo sabendo que sua vida estará em risco. O líder também deve fazer o mesmo, mantendo a calma da equipe, de acordo com as informações que surgirem”, compara Tonia.
Impessoal
Existem relatos de funcionários que simplesmente perdem todo acesso ao e-mail, do dia para a noite, e são notificados por telefone, whatsapp ou e-mail pessoal.
“Os líderes sequer aparecem para fazer o comunicado ou ligam para as pessoas do time que foram desligadas. A relação e conexão humana pode se manter ainda que a pessoa não trabalhe mais no time. Além disso, é um momento em que as pessoas precisam de suporte e a liderança compassiva precisa aparecer nessa hora. Apenas uma forma “robotizada” de fazer este desligamento desumaniza o processo de desligamento”, alerta a autora
Porém, Tonia ressalta que, em casos de demissão em massa, a empresa costuma avisar que será por e-mail, já preparando as pessoas sobre o que esperar. No caso do Facebook, em torno de 13% das pessoas foram cortadas e o e-mail acabou sendo a forma escolhida para dar a notícia ao mesmo tempo para as pessoas.
Por fim, a autora ressalta que é importante ter compaixão por parte da liderança. “É preciso compreender que é uma fase difícil para os colaboradores, e verificar o que a empresa ou o gestor pode oferecer para auxiliar os dispensados – como uma carta de recomendação, ou até mesmo apresentar o ex-colaborador para pessoas da rede de networking que sejam empregadores em potencial”, aponta.
Empatia com a equipe
Para aqueles que continuam na empresa, apesar do alívio de não ser afetado pela demissão, a dor de perder companheiros de trabalho também é grande. Dar acolhimento para essas pessoas e incentivá-las a contactar seus colegas pode ajudar no processo. Muitas pessoas se colocam à disposição para apresentar pessoas de seu networking e ajudar em conversas em casos assim. “A cultura de cuidado é importante para quem fica e para quem vai, de forma que a decisão é focada em negócios, mas deve-se cuidar das pessoas no processo” finaliza Tonia Casarin.
Sobre Tonia Casarin– Mestre em Liderança com foco no desenvolvimento de Competências Socioemocionais pela Universidade de Columbia (NY), é pesquisadora, palestrante e autora de best-sellers. Em outubro/22, irá lançar seu novo livro, sobre liderança exponencial, abordando aspectos socioemocionais, com foco no papel do líder e no ambiente corporativo. Atualmente, mora no Vale do Silício e trabalha com consultoria e desenvolvimento de lideranças.



