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Câmara comemora dia da comunidade árabe

Para Rodrigo Reis, proponente da homenagem, a comunidade árabe de Curitiba foi um dos grupos étnicos que mais contribuiu para o desenvolvimento da cidade.

“A comunidade árabe em Curitiba adiciona ao nosso espaço urbano valores culturais, educacionais, artísticos, religiosos, científicos e econômicos”, disse o parlamentar.

Ele destacou que se trata de um grupo com considerável presença no comércio da cidade. “Extremamente trabalhadores, geram empregos e renda. Representantes de uma cultura milenar, são amplamente merecedores de reconhecimento e exaltação”, disse Reis.

Professor Euler, presidente da mesa, deu início à sua fala contando que, quando chegou a Curitiba, aos 21 anos de idade, foi recebido pelo casal Marco Antônio Fatuch e Alice Fatuch, integrantes da comunidade árabe da cidade.

“Com eles, tive a oportunidade de conhecer melhor a cultura árabe e os hábitos da comunidade. É um grande prazer estar entre os senhores e as senhoras”, declarou o vereador. Euler destacou que, quando se fala em imigração em Curitiba, costuma-se lembrar dos alemães, italianos e poloneses, mas seria uma injustiça não frisar a importância da comunidade árabe, “não só para a construção da cidade de Curitiba, como também para o estado do Paraná e para o Brasil”, enfatizou Euler.

Presença árabe
Em nome da comunidade árabe, falou inicialmente o historiador e pesquisador Gehad Hajar.

“Agradeço a homenagem promovida pela Câmara Municipal de Curitiba à comunidade árabe em nome de meu pai, um desses migrantes que chegou ao brasil sem nada e foi de mascate a comerciante”, disse Hajar.

Ele lembrou de um antigo ditado árabe segundo o qual, aquele que dá algo, marca a sua gratidão sobre a areia, porque deve esquecer o bem que faz; porém aquele que recebe algo, deve gravar a sua gratidão no bronze.

De acordo com Gehad Hajar, o mais antigo documento que mostra a presença de um árabe no Brasil, à época um cristão novo, convertido à força e que teve de esconder a fé islâmica, é justamente a ata da primeira cidade portuguesa no sul do Brasil: a então Vila de Nossa Senhora do Rosário de Paranaguá.

“Por ocasião do erguimento do pelouro de Paranaguá em 1647, praticamente todos os participantes não sabiam ler. O escrivão escolhido para preencher a ata relativa ao evento, aproveitando que nenhum dos presentes perceberia, registrou a etnia árabe assinando ‘Bassan’, um típico nome árabe, de uso proibido naquele momento”, contou Hajar.

Na prática, segundo ele, há 367 anos já está marcada a passagem dos primeiros árabes no Paraná, embora normalmente se associe a presença dessa cultura no estado a partir de 1870, quando D. Pedro II viajou ao Oriente Médio e informou, em árabe, que o Brasil estava aberto e receptivo aos árabes que aqui desejassem se instalar.

“Dez anos antes desse convite formulado por Dom Pedro II, já havia registros da presença de famílias árabes no interior do Paraná”, informou Hajar.

Outro fato que associa a cultura árabe não só à Curitiba, como a todas as cidades brasileiras, está no desenvolvimento, em Portugal, do modelo de administração local conhecido como “município”, tanto no território português como nas colônias portuguesas espalhadas pelo mundo naquele período. Gehad Hajar explicou que esse modelo foi absorvido pelos portugueses ao longo dos 798 anos em que os árabes dominaram a Península Ibérica.

“Funções administrativas existentes no Brasil Colônia como o alcaide, o almeirinho e o almoxarife têm sua origem árabe já evidente na etimologia dessas palavras. A cultura árabe estava na base dos primeiros conselhos de administração local, surgidos em Portugal sob o nome de municípios.

A Câmara Municipal de Curitiba se orientou por este modelo desde sua origem até 1827”, explicou Hajar.

O pesquisador também destacou o fato de que foram os mascates de origem árabe que deram início à prática do pequeno crédito, ou seja, o parcelamento de pagamentos com base na confiança estabelecida entre o mercador e o comprador.

“De acordo com os pesquisadores, esse procedimento teve início entre os mascates do sul do Brasil, que viram uma oportunidade de fazer grandes negócios a partir de pequenas compras”, informou Hajar.

“E não podemos esquecer dos árabes africanos negros que foram escravizados, trazidos ao Brasil e tiveram seus nomes e sua cultura apagados. Muitos morreram por se negar à conversão religiosa”, disse ele.

Mãe gentil
Para o professor Jamil Iskandar, os árabes tiveram uma presença extraordinária na formação da sociedade curitibana.

“Ao chegar ao Brasil, a primeira coisa que os árabes conseguiam fazer era mascatear e, nesse sentido, havia duas possibilidades: ir para o sertão ou ficar numa cidade maior com um carrinho que, visto hoje na economia, é um ponto comercial móvel. À noite recolhia o carrinho em que vendia frutas, roupas, quinquilharias, um pouco de tudo. Passado um tempo, alugava um lugar para uma loja, um comércio fixo. Tudo isso foi importante, porque iniciou a questão do crediário, que teve influência no surgimento do grande atacado, até então desconhecido”, explicou o professor.

De acordo com Iskandar, os árabes vieram para Curitiba e legaram uma cultura construída ao longo de milênios.

De acordo com ele, os árabes sempre se espalharam pelo mundo e, no Brasil, todos os cidadãos de todas as ramificações da cultura árabe encontram receptividade.

“Lembro de um trecho do Hino Nacional Brasileiro que diz que essa terra é a mãe gentil. Realmente, o Brasil deu carinho e guarida, permitiu que tivéssemos mesquita, igreja ortodoxa, clube sírio-libanês. Por natureza, o árabe se adapta ao local onde ele está. Ele tem um respeito pelo outro, e essa característica está no seu DNA. E nós respeitamos e amamos muito o Brasil”, disse o professor.

“Salaam Aleikum”
Santin Roveda, secretário de justiça do estado do Paraná, abriu sua fala dizendo “Salaam Aleikum”, expressão que em árabe significa “que a paz esteja contigo”.

“É uma alegria estar ao lado de vocês, uma comunidade tão emblemática para a construção de um país que é extremamente jovem”, disse o secretário. Roveda lembrou que a cultura árabe é milenar e traz ensinamentos de resiliência, trabalho duro, incansável, e união.

De acordo com ele, a questão do migrante é uma das que mais merece atenção na secretaria de justiça. “Temos um acordo com a Polícia Federal para receber nas dependências da própria PF, em Curitiba, os migrantes que são tratados com todo respeito e atenção. Muitos chegam desorientados, sem saber a língua e sem o acolhimento adequado. Estamos lá para dar esse atendimento, essa acolhida a quem chega. Uma boa parte vem porque não quer morrer em algum conflito”, explicou Roveda.

A deputada estadual Flavia Francischini, que também possui ascendência árabe, disse estar muito feliz em participar de mais um evento na Câmara Municipal. “Principalmente”, disse ela, “para homenagear a comunidade árabe, responsável por uma relevante parte da história de Curitiba. Estamos aqui para reconhecer suas contribuições no comércio e na indústria”.

Rached Hajar Traya, médico proctologista e diretor-presidente da Unimed Curitiba, declarou ser uma honra compor a mesa da sessão solene e agradeceu o reconhecimento prestado pela Câmara Municipal à comunidade árabe.

“É uma comunidade muito contributiva. Sou nascido em Curitiba, mas filho de pai e mãe libaneses, o que muito me orgulha”, disse ele.

O padre Simão Nasri, da Igreja Ortodoxa Antioquina São Jorge, lembrou que foi na Antioquia que os discípulos de Jesus passaram a ser chamados de cristãos.

“Os primeiros antioquinos que chegaram ao Brasil, precisaram mostrar documentos turcos, pois a região foi dominada pela Turquia por 500 anos. Eu mesmo sou um refugiado da atual guerra na Síria e devo dizer que os povos árabes têm muito a agradecer ao povo brasileiro, pela receptividade e pelo carinho”, declarou o padre.

Lei federal
O médico Gourg Abdullah, cônsul da República Árabe da Síria, disse que saiu de sua pátria-mãe, mas chegou ao Brasil e encontrou uma outra mãe, que recebeu todos de braços abertos.

“Foi um país que ofereceu as facilidades e as condições para que vivêssemos de forma digna e correta”, declarou Abdullah. Nizar Hussein Hachem, cônsul honorário do Líbano, também disse estar muito honrado e agradecido, frisando a presença de inúmeros libaneses das mais diversas categorias profissionais entre os homenageados.

“Desde que cheguei a Curitiba, nunca me senti sozinho, embora meu nome Vahid, em árabe, signifique sozinho”, disse o Xeique Vahid Khodabakhshi.

“Quando fomos convidados pelo prefeito Rafael Greca para fazer uma oração em companhia de todas as demais entidades religiosas, incluindo as minorias, nenhum de nós que lá esteve se sentiu sozinho. Curitiba é um bom exemplo de que você pode ter uma das melhores cidades do mundo com muitas comunidades de etnias diversas convivendo em paz”, disse o xeique.

Sayed Amir Hachem, líder religioso da Mesquita de Curitiba Imam Ali Ibn Abi Tálib A.S., contou que viajou para vários países, mas nunca viu tanto carinho e amor quanto no Brasil. “Estamos aqui como se estivéssemos em nossos países. Minha mãe nasceu no Brasil em 1930, minha vó é brasileira e meu pai libanês. Moramos aqui e sentimos que estamos em casa, não nos sentimos estrangeiros”, declarou.

Para Moutih Ibrahim, da Sociedade Árabe Beneficente, os vereadores Rodrigo Reis e Professor Euler entraram na história da comunidade árabe de Curitiba. De acordo com ele, a criação do Dia Nacional da Comunidade Árabe (lei federal 11.764/2008) foi uma iniciativa do falecido deputado federal e ex-ministro da Justiça Romeu Tuma. Moutih agradeceu a homenagem e lembrou que a Sociedade Árabe Beneficente completa 75 anos em 2023.

Homenageados
Flávia Francischini, deputada estadual; Sayed Amir Hachem; Xeique Vahid Khodabakhshi; Xeique Mohamed Reza Rezaei; Nizar Hussein Hachem; Yôunes Haidar; Zehde Hamdar Hachem; Gourg Abdullah, cônsul da Síria; padre Simão Nasri; Gehad Hajar; Jamil Iskandar; Ibrahim Charchih; Gamal Omairi; Haidar Omar; Rached Traya; Elias Mattar Assad; Fátima Mansour; Jamille Hammoud; Walid Sleiman El Mousif; Nemêr Hajar; Ualid Rabah; Ômar Násser; Áli Ahmad Hamdar, Leislie Cristina Haidar; Fouad Omáire; Mohamad Ataya; Samír Bháy; Zakaria Ali Samad; Ismaìl Áhmad Said Hajar; Hanadi Kanaan Bark; Cibele Karam Bond; Anuar Adnan Al Charif; Felipe Braga Farhat; Elza Jaime; Nayef Chamma Júnior; Daniel Abdo Tannous; Elias Abdallah; Samir Amied Ibrahim; Farid Faissal El Sankari; Jorge Luís Fayád Nazário; Samir Moussa; Radwan Mahdi Raad; Santinho Roveda; Moutih Hibrahim; Fauzie Ibrahim Fauaz; Diogo Fayad Nazário; Hodsi Rodrigues Elias; Badiha Tousic Bark; Yasmin Hanoff Zakari Samad; Nádia Hammond; Salomão Hasan Pazinato; Mohamed Malily Omeri; Tamara Samad; Reiner Munir Bark; Ana Paula Santiago Pasqual; Julieta Reis; Evelyn Hamsar; Tiago Viola; Marco Roberto Sukita; Fádia El oumari Blaibelmouth; Fernanda Chinizo; Professor Euler.

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