Com o título “As marcas do racismo na escola”, o programa Caminhos da Reportagem desta segunda (25), às 23h, na TV Brasil, mostra que metade das escolas do país não cumpre a lei antirracista. A edição inédita do jornalístico da emissora pública destaca alternativas para lidar com esse desafio.
A equipe da atração consulta especialistas que comentam o problema e indicam soluções. O conteúdo produzido pelos profissionais do canal sobre o racismo no ambiente escolar fica disponível no app TV Brasil Play.
Há mais de duas décadas, uma lei tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira, nas escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Só que aplicar o que a legislação determina ainda não é a realidade em uma parcela significativa das instituições de ensino em território nacional.
Dados traçam panorama desafiador
Uma pesquisa do Ministério da Educação revelou que, entre 2019 e 2021, metade das escolas desenvolveu algum projeto sobre relações étnico-raciais. Quando se fala em educação continuada, o quadro é mais grave: 14,7% dos gestores escolares disseram ter materiais pedagógicos ou socioculturais para ensinar a disciplina. Para completar, havia apenas 0,92% dos professores com formação adequada sobre o tema.
O panorama demonstra a gravidade do problema já que ignorar a história e a cultura dos negros é ignorar a história e a cultura de 56% dos brasileiros. A produção jornalística do canal público busca explicar porque implementar a lei 10.639/2003 é tão difícil.
“Se você me perguntar como pesquisadora, eu digo: coordenação federativa. Num país tão grande como o nosso, com desigualdades tão significativas, você precisa de uma coordenação forte do Ministério da Educação para colocar todas as redes na mesma página e ajudá-las a implementar a política”, avalia a secretária de Educação Continuada, Diversidade e Inclusão do MEC, Zara Figueiredo.
Ainda segundo a secretária, essa implementação da lei será, de fato, feita com o lançamento da “Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-raciais e Educação Escolar Quilombola” a partir de 2024.
“Nós ofertamos, só este ano, 215 mil vagas de formação de professores. Além disso, tem o material de apoio. Nós encaminhamos, para centenas de redes, o livro do professor e o livro do aluno (com conteúdo antirracista) para os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental” complementa a secretária do MEC.
Casos marcam vida dos alunos
Professoras consultadas pela equipe do programa Caminhos da Reportagem apontam medidas importantes para trabalhar o assunto no ambiente escolar e dentro da sala de aula. Afinal, as marcas do racismo na escola não se apagam nunca. A atração revela como esses casos influenciam a vida dos estudantes.
Os depoimentos fortes mostram como esse preconceito se manifesta no espaço de ensino. “Eu lembro de ter sido posta de castigo no fundo da sala – e eu fui a única colocada lá, embora a turma toda tivesse fazendo bagunça – e fiquei ali até urinar na roupa”, conta a professora Gina Vieira.
Já a professora Keila Vila Flor recorda outra situação frequente que causava sofrimento. “As piadas de cunho étnico-racial geralmente eram direcionadas a mim. Na época, eu não sabia nomear essas violências, mas sempre houve um desconforto”, pontua.
“Eu estudei numa escola particular e nessa escola tinha as classes A e B. A classe B era a das crianças que não aprenderiam com tanta rapidez como as da classe A. E as crianças nessa classe B eram negras”, lembra Paula Janaína que também é educadora.
Especialistas projetam soluções
O Caminhos da Reportagem traz a opinião de especialistas que sugerem direções possíveis e ações que podem ajudar a solucionar o racismo. A equipe do programa buscou exemplos no Distrito Federal e em Salvador. Na capital do país, o projeto Cresp@s & Cachead@s tem como ponto de partida recuperar a autoestima dos estudantes negros. Já na capital da Bahia, a escola Maria Felipa dá o exemplo.
“Existe na escola um projeto político-pedagógico de valorização dos diferentes marcos civilizatórios do nosso povo, então a gente leva para o currículo a cultura africana, a cultura indígena e a cultura europeia em grau de igualdade de paridade. O que isso significa? Significa que eu não vou levar a cultura europeia para escola na Matemática, na Filosofia, na História e vou levar a cultura africana apenas na capoeira e no samba. Então, é levar a cultura africana na História, na Matemática, na Ciência. E o mesmo é feito para a cultura indígena”, explica a idealizadora da escola, Bárbara Carine.
Vencedor do Prêmio Jabuti com o livro “O Avesso da Pele” e alvo de censura em, pelo menos, quatro estados do país, o escritor Jeferson Tenório defende a pauta no meio educacional. “A discussão do racismo dentro da escola é importante, porque é preciso ter uma responsabilidade ética: me preocupar com os problemas dos outros e não só com os meus. É colocar também o racismo numa dimensão em que o aluno perceba que não existe democracia enquanto houver racismo”, conclui o também professor.
Ficha Técnica
Reportagem: Iara Balduino
Produção: Carolina Oliveira e Patrícia Araújo
Reportagem cinematográfica: André Rodrigo Pacheco, Rogerio Verçoza e Sigmar Gonçalves
Auxílio técnico: Alexandre Souza, Dailton Matos, Edivan Viana, Rafael Calado e Thiago Pinto
Edição de texto: Paulo Leite
Edição de imagem e finalização: André Eustáquio e Márcio Stuckert
Arte: Alex Sakata, Caroline Ramos e Wagner Maia
Sobre o programa
Produção jornalística semanal da TV Brasil, o Caminhos da Reportagem leva o telespectador para uma viagem pelo país e pelo mundo atrás de pautas especiais, com uma visão diferente, instigante e complexa de cada um dos assuntos escolhidos.
No ar há mais de uma década, o Caminhos da Reportagem é uma das atrações jornalísticas mais premiadas não só do canal, como também da televisão brasileira. Para contar grandes histórias, os profissionais investigam assuntos variados e revelam os aspectos mais relevantes de cada assunto.
Saúde, economia, comportamento, educação, meio ambiente, segurança, prestação de serviços, cultura e outros tantos temas são abordados de maneira única. As matérias temáticas levam conteúdo de interesse para a sociedade pela telinha da emissora pública.
Questões atuais e polêmicas são tratadas com profundidade e seriedade pela equipe de profissionais do canal. O trabalho minucioso e bem executado é reconhecido com diversas premiações importantes no meio jornalístico.
Exibido às segundas, às 23h, o Caminhos da Reportagem tem horário alternativo na madrugada para terça, às 4h30. A produção disponibiliza as edições especiais no site http://tvbrasil.ebc.com.br/
Ao vivo e on demand
Acompanhe a programação da TV Brasil pelo canal aberto, TV por assinatura e parabólica. Sintonize: https://tvbrasil.ebc.com.br/
Seus programas favoritos estão no TV Brasil Play, pelo site http://tvbrasilplay.com.br ou por aplicativo no smartphone. O app pode ser baixado gratuitamente e está disponível para Android e iOS. Assista também pela WebTV: https://tvbrasil.ebc.com.br/
Serviço
Caminhos da Reportagem – segunda-feira, dia 25/11, às 23h, na TV Brasil
Caminhos da Reportagem – segunda-feira, dia 25/11, para terça-feira, dia 26/11, às 4h30, na TV Brasil
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