Política

Carta de Curitiba: compromisso da SBPC com a democracia

O documento foi votado e aprovado por unanimidade na Assembleia Geral de Sócios da SBPC, reunida durante a 75ª Reunião Anual da SBPC, na capital paranaense.

Na carta, a entidade aponta como pontos prioritários e não-negociáveis a igualdade de oportunidades e a inclusão social, o pleno direito à Educação de qualidade, que garanta a inclusão de todas as ciências na trajetória formativa dos estudantes, o fortalecimento da pós-graduação, o protagonismo da ciência nas agendas ambientais e sociais, os recursos e o planejamento político para a atividade científica, a saúde e a formação continuada dos profissionais da área, o controle mais rigoroso das taxas de juros no País, os direitos dos povos indígenas e o respeito e tolerância às diferenças.

O documento será amplamente divulgado e enviado a todas as autoridades nacionais. Confira abaixo na íntegra:

CARTA DE CURITIBA

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em sua 75ª Reunião Anual, na cidade de Curitiba, proclama seu firme compromisso com a democracia e tudo o que ela implica:

  • A prioridade zero de nosso País é o restabelecimento e fortalecimento da Ela não existe sem liberdade de expressão, de organização e de voto, nenhuma das quais, porém, pode ser utilizada para a ofensa, a opressão ou a discriminação. O equilíbrio dos três poderes constitucionais deve ser restabelecido, o que inclui o fim do orçamento secreto e a concepção do orçamento por critérios de interesse nacional.

Num país marcado por séculos de colonização, escravidão e exploração da pessoa pela pessoa, faz parte essencial da democracia a igualdade de oportunidades, que permita promover uma forte inclusão social;

  • A educação é o que torna a democracia sustentável. Para tanto, é preciso garantir o direito de aprendizado a todos os cidadãos, desde a tenra infância, assegurando a matrícula desde a creche até o final do ensino médio, como preveem a Constituição Federal e o Plano Nacional de Educação em vigor. O fortalecimento da formação de nossos professores, o fim da militarização das escolas, o incentivo à criatividade e ao pensamento crítico devem ser prioritários.

No ensino médio, é preciso garantir nenhuma ciência a menos, inclusive a Filosofia, necessária para desenvolver a ética e o pensamento lógico, e a Sociologia, a ciência que estuda a sociedade.

Também é preciso fortalecer o ensino técnico e vocacionala exemplo do Pronatec, iniciativa que deve ser resgatada. Mas o ensino técnico precisa ter forte base científica, não podendo ser realizado às custas das ciências;

  • O ensino superior, estreitamente ligado à pesquisa, requer o fortalecimento de nossos programas de pós-graduação, que devem formar profissionais bem qualificados que possam não apenas atender às necessidades da docência universitária, mas também realizar as potencialidades de uma economia descarbonizada e sustentável. Atualizar os programas de mestrado e doutorado, levando em conta a crescente interdisciplinaridade das ciências e adequando-os à realidade nacional, deve ser considerado uma prioridade. A escolha dos reitores das instituições federais de ensino superior deve caber às respectivas instituições, sem passar pela lista tríplice, que nestes últimos anos gerou intervenções políticas indevidas nas universidades;
  • Na ciência, o Brasil deve definir, ainda este ano, quais são as áreas e temas do conhecimento em que pode ter papel de liderança e protagonismo, como nossa biodiversidade e diversidade cultural, ao mesmo tempo que tem de manter sua participação em alto nível em absolutamente todas as áreas e temas do conhecimento, inclusive naqueles em que não terá condições de ser protagonista. O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) precisa continuar a trajetória de sua recomposição, ampliando a participação dos recursos não reembolsáveis para 85%, sendo estes os que se destinam a fortalecer o parque brasileiro de pesquisa. Também entendemos que devam ser aumentados os recursos para as duas grandes agências federais de fomento, CAPES e CNPq, bem como cumpridos os dispositivos das Constituições estaduais que asseguram um financiamento estável às respectivas Fundações de Amparo à Pesquisa;
  • A SBPC saúda a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, aceita participar de sua concepção e organização, e defende que ainda este ano se definam a Estratégia Nacional de CTI, bem como se inicie a construção do Sistema Nacional de CTI, que deverá reunir os ministérios do Governo Federal voltados a este tema, em especial, mas não apenas, o MCTI, o MEC, o MS e o MMA, bem como as instâncias estaduais e, sempre que existentes, municipais;
  • A preservação dos Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Educação e da Saúde, aqueles que mais se aproximam da missão institucional da SBPC, deve ser garantida, não se constituindo em moedas de troca para obtenção de apoios políticos, ainda que reconheçamos a necessidade destes últimos;
  • A saúde é direito de todos e uma vantagem extraordinária para nosso desenvolvimento. Isso implica não apenas o fortalecimento do SUS como, também, constante atualização na formação dos profissionais da saúde. Um programa como o Mais Médicos, que em sua vertente estrutural, a cargo do MEC, aprimora a formação dos médicos, deve ser reforçado;
  • O desenvolvimento econômico é imprescindível. Para tanto, deve-se baixar a taxa de juros, que não tem comparação com nenhuma economia do planeta, e que não se justifica, dado que nossa inflação não decorre de excesso de demanda; além disso, a taxa hiper elevada que o Banco Central vem praticando acarreta despesas anuais enormes, desviando para os poucos rentistas dinheiro que poderia atender a necessidades prementes de nossa sociedade;
  • Uma reforma tributária que alcance a renda e a propriedade, a exemplo do que se faz nos países avançados e nas principais democracias, é essencial, a fim de termos os recursos indispensáveis à promoção da vasta agenda que consolide nossa democracia;
  • O respeito aos povos indígenas é um dever ético de primeira ordem. Repudiamos assim a tese do Marco Temporal e reconhecemos seu direito a suas terras, costumes, cultura, línguas, saúde e vida;
  • Ninguém pode ser discriminado por sexo, gênero, cor, etnia, orientação sexual, origem geográfica, nem por credo religioso ou descrença, nem por suas ideias políticas, pelo menos enquanto respeite os outros e não viole as leis e os códigos de conduta em sociedade. Tal respeito inclui tanto o reconhecimento dos direitos e de espaço para os grupos historicamente discriminados, quanto a possibilidade de nosso País aproveitar seus talentos, necessários para nosso crescimento como sociedade e como economia. Não deveríamos precisar dizer isso, porque é óbvio, mas em nossos tempos, infelizmente, dizer o óbvio às vezes é imperioso.
Redação JBA Notícias

Recent Posts

Estudantes do programa ‘Ganhando o Mundo’ retornam ao Paraná após semestre de intercâmbio na Austrália

Ao todo, 50 alunos que participaram de um semestre letivo de intercâmbio na Austrália desembarcaram…

18 horas ago

Ratinho Junior participa de encontro com MPs e recebe medalha do Bope durante 14º Cosud

Durante o encontro, no Rio de Janeiro, os governadores tiveram mais detalhes sobre o Plano…

18 horas ago

Com ações do IDR-Paraná, renda dos criadores de búfalos pode crescer 50% no Estado

Encontro nesta semana, em Itaperuçu, integrou as ações que o IDR-Paraná vem promovendo no sentido…

18 horas ago

Dezembro Transparente: CGE informa cidadãos sobre como fiscalizar gestão pública

Objetivo do Dezembro Transparente é promover a cultura de transparência, de prevenção e de combate…

18 horas ago

Perto da população: Missão Paraná IV leva forças de segurança ao Litoral

Ao longo da semana, equipes das polícias Militar, Civil, Penal, Científica e do Corpo de…

18 horas ago

Cosud articula mais recursos da União para assistência de média e alta complexidade

No começo do século, por exemplo, o governo federal custeava 70% dos pagamentos necessários para…

18 horas ago