Se antes da pandemia o setor de transporte já sofria com a queda no número de passageiros, com a crise sanitária o problema se intensificou.
Entre 2018 e 2019, 12,5 milhões de pessoas deixaram de usar o ônibus como principal meio de deslocamento.
O transporte público foi um dos setores mais afetados por conta do isolamento social e, mesmo com as medidas de restrição mais flexíveis, o setor ainda luta para retomar os patamares anteriores.
Segundo levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), em 2019, eram realizadas diariamente no país, em média, 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes, número que caiu para 22,4 milhões em 2021, representando diminuição de 32,6%.
Desde o início da pandemia até abril deste ano, os sistemas organizados de transporte público por ônibus urbano de 2.703 municípios brasileiros tiveram uma perda acumulada de R$ 27,8 bilhões.
“Esses sistemas encontram-se em modo de sobrevivência, sem fôlego para investimentos de curto prazo, tornando evidente que o modelo de equilíbrio econômico baseado apenas na arrecadação de tarifas pagas pelos usuários se mostra insuficiente”, explica o especialista em Gestão e Planejamento de Trânsito, mestre em Engenharia de Transportes e professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Positivo (UP), Hugo Alexander Martins Pereira.
Ainda segundo a NTU, a crise econômica no setor adiou a compra de novos veículos, fazendo com que a idade média da frota de ônibus do transporte coletivo do Brasil, com 6 anos e 11 dias, seja a mais alta dos últimos 27 anos, um crescimento de 6,7% comparado com o ano do início da pandemia.
Levando em conta esses fatores, Hugo aponta cinco questões que podem solucionar o problema econômico e de infraestrutura do transporte público urbano.
Com o custeio do serviço sendo insuficiente, o especialista defende que a busca por novas receitas deve ser objeto de discussão e proposições pelos órgãos gestores do sistema de transporte público do país. “Desde a exploração com publicidade nos espaços dos veículos utilizados até a isenção de impostos municipais que incidem sobre as tarifas do transporte, o debate deve ser feito de modo que o valor da tarifa atraia os usuários ao sistema, ou seja, uma tarifa mais acessível e que aumente a arrecadação”, explica.
Outra medida que deve ser permanente é o pagamento das isenções legais que são concedidas ocasionalmente, principalmente em ano de eleição.
“É uma questão que representa uma parcela significativa dos passageiros, especialmente em algumas regiões e perfis demográficos mais carentes”, sugere.
Se o benefício do governo federal das isenções é um caminho importante, a implantação de políticas de subsídio não fica atrás, sobretudo se causar um equilíbrio na operação e nos investimentos para modernização da frota.
“A eletromobilidade e a redução das emissões de gases de efeito estufa são pontos fundamentais no debate da renovação de frota e na busca por uma agenda mais sustentável, além da redução no número de veículos automotores nas ruas”, destaca o especialista.
Por se tratar de um serviço essencial à população, a discussão sobre o transporte coletivo deve somar esforços na questão da gestão do serviço. “As gestões técnicas e cooperativas do transporte público urbano necessitam focar na qualidade dos serviços, na otimização do sistema e na entrega de um serviço de confiabilidade aos seus usuários”.
Hugo alega que dar prioridade a esse meio de transporte pode ser a principal ação para contribuir com a melhoria dos sistemas de transporte público do Brasil, tornando mais equilibrada a competição entre o veículo particular e os coletivos. “Isso pode ocorrer por meio de políticas públicas, como nas discussões que envolvem o desenvolvimento urbano, ou com projetos que contribuam para um aumento de velocidade – com segurança -, proporcionando uma redução do tempo de viagem”, finaliza.
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