Centenas de atletas, milhares de horas de treinos e uma medalha olímpica inédita.
Uma parte importante da conquista da equipe de ginástica artística brasileira, que ganhou o bronze na disputa feminina por equipes na Olimpíada de Paris, passa pelo Centro de Excelência em Ginástica do Paraná (Cegin), em Curitiba.
O local foi sede da Seleção Brasileira da modalidade na geração das atletas Daiane dos Santos e Daniele Hypólito por vários anos, ajudou a inspirar dezenas de atletas de alto nível e hoje abriga os treinamentos da medalhista curitibana Júlia Soares, integrante da equipe que ficou em terceiro lugar na competição por equipes nos Jogos Olímpicos de Paris na terça-feira (30).
Além disso, é o clube onde trabalha a treinadora da Seleção Brasileira, Iryna Ilyashenko. O Brasil ainda tem chance de aumentar o quadro de medalhas da ginástica em Paris.
Neste sábado (3), Rebeca Andrade compete a final do salto. Na segunda-feira (5), Júlia Soares participa da competição da trave e Rebeca se apresenta na trave e no solo.
CEGIN – O centro se transformou em um dos grandes palcos da ginástica artística brasileira na virada dos anos 2000, quando o espaço foi construído pelo Governo do Estado e abrigou os treinadores recém-chegados da Ucrânia, Oleg Ostapenko e Iryna Ilyashenko.
Os dois profissionais foram contratados pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), que durante a década de 1990 tinha mudado sua sede para Curitiba. Com a chegada deles, o centro abrigou, por quase uma década, a elite da ginástica artística nacional.
“De 2001 a 2008, as principais ginastas da seleção treinaram aqui de maneira permanente. Daiane dos Santos, Lais Souza, Daiane dos Santos, Jade Barbosa, além de várias outras atletas de diversas categorias”, explicou a coordenadora do Cegin, Eliane Martins.
“Foi o grande ‘boom’ da ginástica artística. Foram profissionais que se estabeleceram na cidade visando, inicialmente, os Jogos de Atenas, em 2004, mas trouxeram uma cultura de treinamento para o Brasil”, disse a presidente da FPRG, Márcia Aversani.
“O Cegin tem uma grande importância para a ginástica brasileira. Além de ter uma história muito rica, da época em que a Seleção Brasileira se estabeleceu em Curitiba, ele é um grande clube formador de atletas de alto rendimento”.
No período em que Curitiba foi sede da CBG e dos treinos da equipe principal da ginástica brasileira, o país conquistou a primeira medalha de ouro em um campeonato mundial, com Daiane dos Santos, e obteve classificações históricas nos Jogos Olímpicos de Atenas e Pequim.
Na Grécia, em 2004, o Brasil conseguiu pela primeira vez na história se classificar para a Olimpíada com uma equipe completa, e na China, em 2008, chegou pela primeira vez à uma final olímpica por equipes.
MEDALHA INÉDITA – A ginástica artística feminina do Brasil mudou de patamar ao longo deste período.
Antes dos anos 2000, o Brasil nunca tinha ganhado uma medalha nas olimpíadas ou em mundiais.
Desde então, o Brasil conquistou um ouro, duas pratas e dois bronzes olímpicos – considerando as duas medalhas já conquistadas em Paris –, além de quatro ouros, cinco pratas e cinco bronzes em campeonatos mundiais.
O Cegin, inclusive, mantém um trabalho de destaque mesmo após a saída da Seleção Brasileira de Curitiba, em 2009, com centenas de atletas formados no complexo, que segue sendo uma referência para a prática da modalidade no país.
“O único local igual a esse é o centro de treinamento do Comite Olímpico Brasileiro, no Rio de Janeiro, que foi construído pra os Jogos Panamericanos”, afirmou Eliane.
Ao todo, 45 ginastas entre 8 e 24 anos treinam no ginásio. Entre elas, estão a medalhista Júlia Soares, de 18 anos, e Carolyne Pedro, que também está em Paris como reserva da equipe nacional.
As duas começaram no esporte aos 4 anos, inspiradas pelas gerações que treinaram anteriormente no Cegin. “
“Elas são fruto de um trabalho que estamos fazendo há muito tempo, com muito esforço e que envolve muitos profissionais. O resultado que esta equipe conseguiu nos Jogos Olímpicos é uma façanha e tanto. Antes desta medalha de bronze, o melhor resultado que o Brasil tinha conseguido era uma oitava colocação”, disse Eliane Martins.
APOIO – Hoje, o Cegin tem um termo de convênio com a Secretaria Estadual de Esportes que prevê que a manutenção do local seja bancada pelo Estado, enquanto o clube oferece uma contrapartida social oferecendo aulas de ginástica para crianças de escolas públicas. O centro é mantido também com recursos da Lei de Incentivo ao Esporte da Prefeitura Municipal de Curitiba e do Ministério do Esporte.
“É por meio destes programas da contrapartida social do Cegin que muitas atletas do Paraná são reveladas para o cenário nacional e internacional da ginástica artística ano a ano”, disse o diretor de Esportes da Secretaria de Esportes, Cristiano Del Rei.
O Governo do Estado também apoia individualmente ginastas que treinam no complexo por meio do Programa Geração Olímpica e Paralímpica.
A iniciativa, que é o maior programa estadual de bolsas a atletas no Brasil, apoia 13 ginastas do Cegin na edição deste ano, desde atletas de base até as duas ginastas da cidade que estão na Olimpíada. Júlia Soares é bolsista desde 2017, quando tinha 11 anos, e Carolyne, que é reserva da seleção, recebeu bolsa em todas as edições do programa, desde 2011.
Desde a sua criação, em 2011, já foram mais de R$ 50 milhões investidos em 8.649 atletas de diferentes níveis e modalidades. Em 2024, foram contemplados 1.165 nomes para receberem o auxílio do Governo do Estado do Paraná, com investimento de R$ 5,2 milhões.
Os editais das bolsas são abertos anualmente e a concessão delas acontece mediante a comprovação de bons desempenhos esportivos em diferentes competições. Os valores são pagos aos atletas por seis meses.
Todos os anos, as categorias variam entre Formador Escolar (R$ 250/mês), Técnico Formador Escolar (R$ 500/mês), Estadual (R$ 500/mês), Técnico Estadual (R$ 1 mil/mês), Nacional (R$ 1 mil/mês) e Internacional (R$ 2 mil/mês). Neste ano, os atletas classificados à Olimpíada e Paralimpíada de Paris receberão uma bolsa maior, de R$ 3 mil por mês.
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