Faltam startups de qualidade para receberem investimentos, diz pesquisa
Empreendimentos são reprovados em due diligence por apresentarem falhas básicas para quem deseja crescer usando recursos de terceiros
Mesmo com a crise econômica, há investidores dispostos a aplicarem em startups. O problema, segundo o CEO da Efund, Igor Romeiro, é que boa parte delas não atende aos requisitos para participarem de uma rodada de investimentos. Produtos sem inovação, gestores sem informações vitais da própria empresa, escolha por segmentos do mercado já saturados são alguns dos problemas encontrados durante o processo de seleção.
De acordo com Romeiro, nos últimos seis meses 58 startups passaram pelo processo de due diligence da Efund visando o recebimento de recursos. Apenas oito estavam em condições de darem continuidade ao processo enquanto as outras 50 foram reprovadas.
Das empresas descartadas, 32 estavam fora da tese de investimento com baixo faturamento. Cinco não passaram no quesito barreira de entrada, sete possuíam produtos sem inovação ou sem diferenciação dos que já estão no mercado e seis foram recusadas por causa dos perfis de seus gestores. “Dois eram arrogantes e quatro nem ao menos sabiam dados das empresas”, conta Igor.
A reprovação, no entanto, não significa a impossibilidade de tentar novamente. Pelo menos para a maioria. O CEO da Efund explica que as 32 startups reprovadas por terem baixo faturamento ainda têm chances de participar de uma rodada de investimentos, bastando amadurecerem um pouco mais no mercado e aumentarem as vendas para o patamar exigido na tese de investimento.
“Já as que possuem barreira de entrada baixa, terão mais dificuldades porque precisam analisar mercado, fazer benchmark, pivotar etc. Isso acarreta custo extra. Já as empresas descartadas por causa do perfil de seus empreendedores, não têm chance conosco”, afirma, ponderando que nada impede que as reprovadas tentem captação por meio de outro player. “Cada casa possui sua tese de investimento. As startups descartadas na Efund são encaminhadas para parceiros como a Woli Ventures e Leonora Ventures, por exemplo”.
Já a barreira de entrada envolve questões importantes como oferecer produtos iguais aos já existentes e estabelecidos no mercado. É difícil para uma empresa pequena tomar mercado de empresas já estabelecidas caso seu produto não traga inovação. Há outras barreiras como não possuir todas as licenças exigidas para atuar, ou não ter condições de comprar equipamentos necessários para produzir na mesma escala dos concorrentes, entre outros entraves.
Quanto ao perfil, o empreendedor precisa entender que ele participará de uma rodada de investimento, ou seja, captará recursos para que sua empresa possa crescer. Porém, o investidor não quer colocar dinheiro nas mãos de um gestor arrogante, que não aceita sugestões ou não seja devidamente transparente.
“Não conhecer todos os detalhes da empresa e não saber passar informações financeiras e administrativas demonstra absoluto amadorismo”, diz Igor. Outro perfil inadequado é o do empreendedor delirante, que tem muitas ideias, mas trabalha pouco, não faz o suficiente para implementá-las.
Há também erros por estágios, onde o empreendedor busca por fundos que investem no seed ou série A, enquanto a startup está na validação do MVP (Mínimo Produto Viável). E Igor ressalta ainda uma falha no âmbito do relacionamento, que é quando o empreendedor só procura o fundo no momento que precisa do dinheiro. Ele não entende que o processo de captação é uma relação de confiança e que cada item da tese de investimento pode ser eliminatório. Assim, para conseguir o recurso ele precisa tirar a maior nota dentre as startups que participam da seleção.
“Investimento é um casamento. Você não olha somente os olhos bonitos de uma pessoa para casar-se. É preciso avaliar se há respeito, companheirismo, alegria e uma infinidade de coisas. Investimento é igual, porém com outros itens para serem analisados”, compara, Romeiro.
Independentemente da plataforma ou fundo escolhido para a captação de recursos, o empreendedor tem de ficar atento aos principais pontos responsáveis pela morte da startup ou pela inviabilização da participação em uma rodada de investimentos. Pesquisa realizada pela CB Insights mostra que 38% sucumbem por falta de dinheiro e 35% por apresentarem produtos sem market fit. Outros 20% simplesmente não conseguiram competir com a concorrência.
Completam o levantamento modelo de negócio inadequado (19%), desafios regulatórios (18%), Precificação (15%), dificuldade em montar equipe (14%), produto mal cronometrado (10%), produto ruim (8%), desentendimento entre o time e/ou investidores (7%), o pivot deu errado (6%) e falta de entusiasmo (5%).