Morreu nesta madrugada o médico-veterinário Aurelino Menarim Júnior, um dos pioneiros e grande especialista em inseminação artificial de bovinos, que há décadas parou de contar quantas vacas apalpou , após registros oficiais de 360 mil.
O corpo será velado em Castro, rua XVC de Novembro, 246, a partir das 14 horas, e o sepultamento será neste domingo, 11 horas, no jazigo da família.
Aurelino Menarim participou do processo de criação de faculdades de Medicina Veterinária, entre elas a da Universidade Estadual de Londrina, foi presidente do Tecpar no governo José Richa, lecionou em diversas escolas, viajou para a Índia e EUA nos processos de evolução e comercialização de semen, forneceu semen para personalidades brasileiras como o vice-presidente Aureliano Chaves.
Lá atrás, o tourinho viajava de caminhão ou trem, adoecia e se machucava, muitos morriam por causa do stresse das longas viagens O que chegava aos destinos cobria no pasto 50 vacas por ano. Cada ejaculada permite 500 doses, o semen dos melhores touros estão congelados há décadas”.
Menarim lamentava a queda no interesse por animais de grande porte nas escolas de Medicina Veterinária brasileiras.
Natural de Castro, sobrinho do compositor Bento Mossorunga, autor do Hino do Paraná e que criou a Orquestra Estudantil de Concertos, origem da Orquestra Sinfônica do Paraná, fã deboleros e tecladista, jogou no time do Caramuru, campeão paranaense.
Logo que se formou médico-veterinário, Aurelino Menarim foi contratado para melhorar o rebanho da cooperativa Castrolanda, localizada em Castro, cidade onde nasceu.
“Os diretores queriam começar a realizar o melhoramento genético através da inseminação, que começava a dar resultado em outros países”, lembra.
Para realizar esse projeto, ele deu início à coleta de material genético de um touro importado de nome Villeneuve, com pai e mãe de comprovada produtividade, para emprenhar as vacas do plantel da cooperativa.
Naquele tempo o sistema era semi-refrigerado, o sêmen era preparado num diluidor e guardado na geladeira, tendo duração de apenas quatro dias.
Menarim contava que mandavam sémen de Castro para Arapoti, de trem, acondicionado numa latinha de cerveja, metade gelo, para uso imediato após as viagens que duravam cerca de duas horas.
Mais tarde, na Fazenda cachoeira, em Sertanópolis, contratado por Celso Garcia Cid, pioneiro no transporte coletivo e incomodado com dificuldades para comprar gado zebu, desenvolveu junto com João Garcia ( filho de Celso) técnicas para congelar semen que permitiram explosão nacional do plantel nelore.
O laboratório foi montado após a importação de gado da Índia, uma operação épica que driblou proibições para a importação de gado do governo federal.
Decidido a comprar gado zebu de qualquer jeito para melhorar a genética do gado nacional, Celso Garcia Cid, viaja para a Índia com Ildefonso em 21 de novembro de 1958, sem ter nenhuma ideia de quando poderia voltar ao Brasil.
Os homens iniciam na Índia uma busca por animais reprodutores e suas matrizes, encontrando, após muita procura, os melhores zebuínos na criação do famoso Marajá de Bhavnagar, cuja família criava zebus há pelo menos três séculos.
Hoje, com as modernas técnicas de refrigeração, esse material pode permanecer estocado por anos, permitindo que touros já falecidos continuem espalhando sua boa semente pelo país.
Junto com outros seis veterinários de seis Estados diferentes (PR, SC, RS, SP, MG e RJ), Menarim deu início à primeira empresa de melhoramento genético do Brasil, a PecPlan (Pecuária Planejada).
“O boom da inseminação foi no Sul do Brasil”, lembra.
Nesse período, ele começou a trabalhar com o congelamento do sêmen, técnica ainda inédita no país.
“A primeira venda (de sêmen) foi para o rei da laranja de Barretos. Aí começou a pegar fogo, todo mundo correu atrás para aprender aquela tecnologia com a gente”, recorda.
Na esteira da PecPlan vieram outras empresas, com a Tecplan, e a Cipare.
Sobre esta última, o veterinário conta que vendeu sua participação acionária para a empresa ABS, do grupo norte-americano Rockfeller.
“Assinei o contrato no edifício Empire State, em Nova York”, lembra Menarim. Em 1976 ele participou do lançamento do primeiro laboratório de coleta e transferência de embriões, uma técnica ainda mais avançada, inaugurada no sertão da Bahia.
“O melhoramento foi muito rápido, e muito violento”, conta o pioneiro ao se referir à velocidade com que o plantel brasileiro foi impactado pelas mudanças tecnológicas.
“Hoje o Brasil tem um patrimônio de nelore que o mundo não tem. Nós encurtamos a frente do animal e esticamos a traseira, que é onde está a carne”, afirma.
Com isso, hoje a genética de zebuínos no Brasil é melhor do que seu país de origem, a Índia.
Neste processo, Menarim conta que houve certa pressão dos produtores junto ao Ministério da Agricultura para impedir que entrasse no país material genético de má qualidade, de forma a não comprometer o trabalho que já vinha sendo feito.
INSEMINAÇÃO
O processo de melhoramento da genética bovina no Brasil tem duas faces importantes, segundo material especial da assessoria de comunicação da Federação de Agricultura do Paraná.
“De um lado está o aspecto folclórico e pitoresco das pistas de exposição, que imortalizaram nomes de grandes reprodutores como os touros Fajardo, Ludy de Garça e outros. De outro lado está o protagonismo dos pecuaristas brasileiros que apostaram na genética para melhorar o plantel nacional e assim elevar o país ao posto de maior exportador de carne bovina do mundo. Se antes desta revolução um animal de exposição era considerado incrível ao chegar aos 800 quilos com cinco anos de idade, hoje é comum encontrar touros com mais de 1.000 quilos com apenas 30 meses de vida. No leite, uma boa média de produção variava entre 4.500 e 5.000 litros por ano. Hoje essa média chega a 27 mil litros anuais, e ainda pode melhorar”.



