Quem eram as vozes femininas da literatura brasileira entre os séculos XVIII e XX? Por que elas escreviam às escondidas e seus textos necessitavam de um endosso masculino para conquistar reconhecimento ou legitimidade de suas produções?
O que parece ser um absurdo atualmente já foi realidade até poucos anos, quando as mulheres não eram estimuladas a escrever, recebiam críticas conservadoras e seus textos foram subtraídos da memória cultural e das análises literárias.
Para resgatar esse atraso na igualdade de gênero, o projeto Anônimas vai realizar diversas atividades culturais gratuitas em escolas públicas – municipais e estaduais – de Colombo, Pinhais e Almirante Tamandaré para falar sobre essas escritoras brasileiras que foram propositalmente esquecidas. As ações já começaram, acontecem em dias, locais e horários específicos e seguem até o mês de julho.
“Vamos revisitar o passado, homenagear essas escritoras que lutavam bravamente por espaço na literatura e foram subtraídas dos registros históricos. Vamos conhecer suas obras e estimular a leitura de seus livros”, explica a idealizadora do projeto, mediadora de leitura e mestranda em Educação pela UFPR, Carla Viccini.
Participantes
Entre as diversas ações que compõem o projeto estão a realização de Workshops de Criação Poética mediadas pela escritora, tradutora e educadora curitibana Luci Collin; que tem mais de 20 livros publicados.
Luci também vai realizar palestras e nessas conferências estará acompanhada por artistas convidadas que englobam nomes como Emanuele Assini, Célia Cristina da Silva, Cleonize Fagundes de Oliveira, Ana Rapha Nunes, Luciana Melamed Steidl e Glória Kirinus.
Já as Oficinas de Escrita Literária e os Workshops de Minicontos serão conduzidas pela escritora Glória Kirinus, que tem pós-doutorado em Sociologia (Teorias do Imaginário) pela Universidade Sorbonne, de Paris.
“Também haverá 120 rodas de leitura conduzidas por mim e pelo escritor, ator e produtor cultural Cristiano Nagel. Paralelamente, faremos a doação de livros para as bibliotecas públicas das cidades atendidas. Com esse projeto, pretendemos atingir cerca de 5 mil participantes”, explica Carla Viccini.
Quem são essas escritoras anônimas?
Para que o público conheça um pouco mais sobre essas autoras anônimas, a idealizadora do projeto fez um breve resumo biográfico.
Narcisa Amália: escreveu Nebulosas e não faltam elogios à sua poesia. Ela é uma heroína, fez críticas sociais e denunciou injustiças. Foi nomeada por D. Pedro II como a “Musa dos Livros” e, de repente, foi ‘esquecida’ na literatura.
Maria Firmina dos Reis: é autora de Úrsula, considerado o primeiro romance de autoria negra e feminina do Brasil. De cunho antiescravista, a obra tem uma perspectiva própria e autêntica, de importância inigualável.
Júlia Lopes: é autora de vários livros, escreveu sobre temáticas realistas e naturalistas. Apesar de fazer parte das reuniões para abertura da Academia Brasileira de Letras, não pode ocupar uma cadeira, pois era mulher.
Amélia de Oliveira: ficou conhecida como a eterna noiva de Olavo Bilac e irmã de Alberto de Oliveira. Sua obra foi publicada postumamente em 1959.
Francisca Julia da Silva: destacou-se como poeta parnasiana, tendo a autoria de um poema seu atribuída a outro escritor do período, pois não acreditaram ser de uma mulher.
Escritoras paranaenses esquecidas
Entre as paranaenses, destaque para Júlia da Costa – que foi considerada a primeira poeta do Estado – Maria Nicolas, ‘a pesquisadora da alma das ruas’ e Laura Santos, que cantava a “glória de ter nascido poetisa”.
Já Mariana Coelho afirmou em um de seus textos: “Permitir, hoje, que a mulher permaneça amarrada ao deplorável poste da ignorância equivale a arriscá-la criminosamente à probabilidade de receber em compensação do seu mais nobre e espontâneo afeto o completo aniquilamento da alma – o que quer dizer a sua principal ruína”.
“Nas rodas de leitura vamos ler trechos de obras dessas autoras para que as pessoas conheçam suas escritas e mensagens. Também vamos intercalar com obras de escritoras mais conhecidas como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Conceição Evaristo e outras. Esse projeto é uma homenagem a muitas escritoras que não puderam publicar seus textos ou fizeram de forma anônima e até com pseudônimos”, complementa Carla Viccini.
O projeto Anônimas foi aprovado no Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura / PROFICE da Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado do Paraná e tem apoio da Copel.
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