Em 2022, a Prefeitura de Pinhais, por meio das Secretarias de Assistência Social, Saúde, Desenvolvimento Econômico, Segurança e Trânsito, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, e em parceria com o Conselho da Comunidade e o Fórum Cível de Pinhais, iniciou o projeto Novo Ciclo: Grupo Reflexivo de “Autores de Violência Doméstica”. A iniciativa tem como objetivo manter e monitorar o grupo com os autores de violência doméstica em processo judicial, na perspectiva de despertar nesses cidadãos uma reflexão sobre suas atitudes e romper os ciclos de violência.
Segundo a Secretaria de Assistência Social de Pinhais (Semas), o projeto começou com propostas de ações voltadas a essa problemática e, consequentemente, a este público masculino que naturaliza a violência, mas também carrega consigo parte de problemas que os fazem adotar tais atitudes e comportamentos agressivos, podendo cometer até mesmo feminicídio contra suas companheiras.
Com encontros mensais no auditório do Fórum Cível de Pinhais, o grupo participa de palestras reflexivas com o palestrante Jackson Zanetti e orientações sobre serviços e ações com as equipes da prefeitura, que incluem: Aspectos jurídicos e legais, com o Departamento de Assistência Judiciária e Cidadania da Semas; Controle Social, com o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; Prevenção ao uso indevido de Substâncias Psicoativas e Saúde do homem, com a Secretaria de Saúde; Lei Maria da Penha, Botão do Pânico, Violências e suas consequências, e mecanismos do município para coibir os ciclos de violência doméstica (agressão), com a Guarda Municipal.
Neste ano, os encontros tiveram encerramento na última terça-feira (12), quando foram abordados temas como o entendimento e reflexão dos impactos das violências e os seus ciclos, bem como sua superação; reflexão sobre projeto de vida; apresentação da rede de atendimento da Assistência Social, com orientação e encaminhamentos; atividades da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, serviços, empregabilidade, sala do empreendedor; e o fechamento do grupo, com avaliação e orientação.
A ação também fez parte da programação da campanha “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres”, realizada em Pinhais de 20 de novembro a 10 de dezembro deste ano.
Uma nova oportunidade
No município de Pinhais, conforme informações fornecidas pelo Centro de Referência Maria da Penha (CRMP), desde sua inauguração em 7 de agosto de 2021, a demanda dessa natureza aumentou, sendo que em 2021 houve 137 medidas protetivas, no ano de 2022 foram 327 medidas protetivas e em 2023, somente no primeiro trimestre, 152 medidas protetivas foram registradas.
Embora os números representem uma realidade infeliz, os depoimentos dos autores de violência que participaram do grupo reflexivo demonstram que é possível uma mudança de cultura.
Pedro Camargo (nome fictício) compartilhou as seguintes palavras, numa carta entregue ao palestrante Jackson Zanetti, referido por ele como ‘Doutor’:
“Quando soube que eu teria que fazer uma série de encontros sobre o que havia acontecido no meu relacionamento, pensei: ‘que chatice, eles pensam que com um cara falando as coisas na vida vai mudar’.
Assisti à primeira palestra, na marra, e na verdade eu queria falar da injustiça de estar ali, do sistema, e do que aquela f… fez com a minha vida.
A advogada que veio falou da história da tal Maria da Penha e eu, sinceramente, disse para um cara que estava ao meu lado: ‘estou jogando meu tempo fora’. Ele me olhou e disse: cara, pare de reclamar se dê uma chance’.
Hoje, compreendo que tudo o que aconteceu, eu tive grande parte, porque permiti que eu fosse tomado por forças e situações que eu não tinha controle algum, e eu acreditava que tinha.
Com o passar do tempo acabei seguindo a sugestão do cara. Prestei atenção, e percebi que esse momento de reflexão era uma nova oportunidade para mim.
Eu tinha que tomar uma decisão: tirar ela de minha vida ou ficar sentado reclamando do mundo.
Olha Doutor, foi muito difícil, porque eu sempre pensei que ela fosse a causa dos meus problemas. Parei de ser vítima de mim mesmo.
Resido fora de Pinhais, consegui um bom emprego, não falo ou vejo ela há muito tempo, consegui regularizar a situação para ver minha filha. Não estou em outro relacionamento porque acho que ainda não é o momento.
Descobri que jamais vou poder tirar ela da minha vida por causa da filha.
Compreendo o que é fazer a minha parte. Você me mostrou nas palestras que no relacionamento é 50% de cada um, mas com a minha vida tem que ser 100% de mim mesmo.
Obrigado a todos os envolvidos nas palestras, obrigado a você doutor, com os momentos de reflexão percebi que a vida sempre vai te dar novas oportunidades.”
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