Tech Girls inicia nova turma para mulheres em vulnerabilidade social, em Curitiba, no dia 15 de agosto
Iniciativa forma trabalhadoras para cargos na área de TI de grandes empresas.
O déficit de profissionais é o principal obstáculo na área de tecnologia da informação (TI) no Brasil. Uma pesquisa divulgada pela Assespro-PR Acate, que levou em consideração o comportamento desse mercado entre 2011 e 2021, foi destacado que o número de vínculos ativos em serviços de TI no Brasil foi de 632 mil empregos. O levantamento mostra ainda que, dentre as áreas que mais necessitam de profissionais capacitados, destaque para os programas de comércio eletrônico, que demanda uma série de aprimoramentos e implementações para manter as compras ativas.
Por outro lado, conforme estudo do Instituto de Pesquisa Data Favela/ Locomotiva, o Brasil, atualmente, tem cerca de 17,1 milhões de pessoas vivendo em favelas. Se as favelas brasileiras formassem um estado, seria o 4º maior estado brasileiro em população, ficando atrás somente de São Paulo, com 476,6 milhões, Minas Gerais, com 21,4 milhões e Rio de Janeiro, com 17,4 milhões. Ainda segundo a pesquisa, são 8,7 milhões de mulheres em favelas brasileiras: 21% dos lares das favelas são formados por mães solo e 72% das mães de favela são chefes de família.
Diante dessa realidade nas comunidades e da demanda no mercado de TI, surgiu o projeto “Tech Girls”. A iniciativa atrai mulheres em situação de extrema pobreza que nunca tiveram contato com computadores, com o objetivo de suprir a carência de profissionais em TI.
A intenção do projeto é promover a empregabilidade em tecnologia e dar tratamento adequado ao lixo eletrônico e partiu da desenvolvedora de software Gisele Lasserre, em Curitiba/PR. A ideia deu tão certo que cidades como São Paulo, Taubaté e Florianópolis, além de associações de bairros e centros comunitários de várias localidades do Brasil, estão realizando atividades semelhantes e se inspirando na iniciativa da Gisele.
“Na prática, atraímos e capacitamos o público feminino, mediante uma ‘trilha de aprendizado’, que começa na oficina ‘Arte em Lixo-Eletrônico‘. Nesse ateliê, as alunas produzem artesanalmente brincos, colares, pulseiras e outras bijuterias utilizando como matéria-prima o lixo eletrônico. Da sala de aula, as technojóias ganharam as ruas e, como foram bem aceitas pelo público, a maioria feminina, são todas registradas com a marca Bijouxtechs®“, conta Gisele.
Depois de trabalhar de forma lúdica com a tecnologia e aproximar as alunas de componentes, cabos e fios, o próximo passo é seguir para os módulos de formação profissional: “Empreendedorismo Digital”, “Manutenção de Computadores” e, finalmente, o último: “Programação de Software”.
Desde a fundação do programa, em 2017, cerca de 600 mulheres foram certificadas pela TechGirls nas áreas de hardware, software, linguagem de programação, assistência técnica de computadores e reciclagem de lixo eletrônico.
As alunas que passaram pelo projeto já conseguiram recuperar 380 notebooks. Esses aparelhos são utilizados por elas mesmas em suas casas, possibilitando que continuem seus estudos e também prestem serviços na área de Tecnologia da Informação (TI).
Dayanne Mazur foi uma das alunas que passou pelo projeto de Curitiba, em 2022. Depois dessa imersão digital junto às Tech Girls, hoje é analista de tecnologia da informação na Rumo Logística, a maior operadora ferroviária do Brasil. Dayanne se destacou entre os demais candidatos durante um rigoroso e acirrado processo de seleção, o que lhe rendeu a oportunidade de trabalhar na empresa.
Sabendo que no segmento de TI prevalece o público masculino, a responsável pela área na Rumo, Mariane Glir Pechebela, se autodenomina ‘incentivadora da causa mulheres e tecnologia’. Em suas palavras, ‘ter a chance de compor nosso time de tecnologia da informação com diversidade de gênero e, especialmente, com histórias de vidas enriquecedoras, como a da Dayanne, nos ajuda na solução de problemas de forma diferente e criativa. Por isso, somos entusiastas de iniciativas como a da Tech Girls, e estamos felizes em contratar profissionais que passaram pela metodologia efetiva que elas propõem.
Quem é a fundadora das Tech Girls?
Gisele Lasserre se formou em Marketing e, depois de 17 anos atuando nesse mercado, viu o segmento ser absorvido pela TI. Prestes a ser demitida da empresa onde trabalhava, precisou se reinventar. Vislumbrando esse cenário, buscou sua segunda graduação em tecnologia da informação. Mesmo tendo que enfrentar alguns preconceitos durante a faculdade, por ter mais idade do que os habituais alunos e por ser mulher em uma área dominada por homens, ela não desistiu. Para Gisele, aquilo que derruba uns, fortalece outros. E no caminho, tinha sempre em mente o pensamento de um dos mais importantes filósofos do iluminismo, Voltaire (1694-1778), que dizia o seguinte: “preconceito é opinião sem conhecimento”.
Buscando forças nesse pensamento, Gisele se voluntariou em associações de bairro e centros comunitários para ensinar tudo que aprendeu sobre tecnologia para mulheres carentes.
Para Josefina Gonzalez, presidente da Assespro-PR/parceria Acate, principal entidade de tecnologia e tnovação do Paraná, um dos principais benefícios dessa ação é contribuir não somente com o mercado de TI, carente de profissionais, mas principalmente com mulheres que se encontram em situação de pobreza: “Ter a oportunidade de ajudar a reverter cenários de vulnerabilidade é incrível. Amparando essas pessoas, estaremos contribuindo com a sociedade em que vivemos, visto que como a maioria dos profissionais formados é de classe A e B, contaremos com olhares que podem compreender e desenvolver novas soluções para problemas do dia a dia”.
SERVIÇO
A próxima turma das Tech Girls em Curitiba está aberta. As aulas começam no dia 15 de agosto e seguem até o dia 03 de outubro, com aulas presenciais às terças e quintas-feiras, das 14h às 17h, na Universidade Positivo-Unidade Osório, localizada à Praça General Osório, 125 – Centro. Mais informações e inscrições podem ser obtidas em www.techgirls.com.br.