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Cultura

Trajetória de João Carneiro na Vilinha do Bairro Alto

A partir do dia 24 de junho, o público curitibano tem a oportunidade de vivenciar gratuitamente a experiência de conhecer todas as fases da trajetória de um artista, no Centro Cultural da Vilinha, no Bairro Alto. Essa é a proposta da exposição “João Carneiro, 47 anos de arte”, organizada pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC), que ficará aberta para visitação até dezembro. As obras apresentam desde os primeiros trabalhos impressionistas do artista, passando pela fase do expressionismo, a definição do traço, além do abstracionismo.

“Esta exposição é uma oportunidade de mostrar fragmentos de 47 anos dedicados à arte porque normalmente as curadorias pegam apenas um recorte da fase do artista e nesse caso estamos abrangendo toda a trajetória”, disse Carneiro.

Mais de 140 exposições

Natural de Ponta Grossa, o artista plástico João Carneiro tem 67 anos e está radicado em Curitiba desde 1996, residindo no Bairro Alto. Ele começou a carreira em 1976 e já participou de mais de 140 exposições nacionais e internacionais, sendo premiado em salões de arte do Paraná e da Bahia, assinando obras em diversas técnicas e conceitos.João aprendeu a pintar nos campos de Ponta Grossa e região. Na primeira fase em que mostra o impressionismo como estilo, retratou uma estufa de fumo que existia num lugar chamado Vilinha, localidade próxima da cidade de Palmeira. Em Curitiba, continuou pintando paisagens, como a das antigas instalações da Cerâmica Colle, que ficava no Bacacheri.

JOÃO CARNEIRO NA VILINHA DO BAIRRO ALTO

A influência da mãe

A obra de João Carneiro tem influência da mãe, que não era artista, mas teve papel preponderante no desenvolvimento do talento do filho. “Minha mãe teve 12 gestações e apenas seis vingaram. Ela costumava dizer que eu era a raspa do tacho. E veja que coisa curiosa: de todas essas gestações, eu fui o único filho em que minha mãe desenhou durante todo o período de gravidez”, disse. João conta que a partir dessa revelação em conversas com sua mãe foi que definiu a característica do seu traço. “Era uma crítica frequente que eu recebia, a de não ter traço. Então eu fiz um trabalho imaginando como seriam os desenhos que minha mãe fazia e achei a minha característica”, contou.

Um dos trabalhos do artista intitulado “O Espantalho”, retrata esta interação com sua mãe. “A minha mãe plantava horta em casa e pedia para que eu fizesse espantalhos para afugentar as aves. Esse quadro refaz esta situação”, relembra.

Boca Maldita e Passeio Público

Ao longo da carreira, João Carneiro brinca com estilos. Um dos exemplos são as experimentações com técnicas de monotipia, em que usa uma caixa de leite para fazer impressões. Depois vem a fase expressionista, em que autor se debruça sobre o cotidiano de conhecidos pontos de encontro de Curitiba, como a Boca Maldita e o Passeio Público. Nesta fase estão retratadas as animadas conversas dos cavalheiros da Boca e o carteado e os jogos de dominó, muito difundidos no Passeio Público.

Também nessa fase estão presentes na obra do artista cenas que mostram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). São diversos momentos captados, principalmente de invasões e reintegrações de posse.“Algumas pessoas me perguntam porque me debrucei sobre a temática do MST. Eu considero um tema como qualquer outro. Pablo Picasso fez a série Rosa e Azul e retratou os mendigos, mas nunca foi um deles. Da mesma forma que Portinari fez uma série mostrando os retirantes, mas também jamais viveu esta condição”, exemplificou João Carneiro.

Outro destaque do trabalho de João Carneiro são os anjos de uma asa só. Ele explica que eles não são anjos, nem demônios: são seres humanos. “Estes anjos são imperfeitos como nós. Só conseguem voar com a ajuda de outro anjo”, disse.

JOÃO CARNEIRO NA VILINHA DO BAIRRO ALTOGrupo Sucateando

A mostra também apresenta fotos dos trabalhos do artista com o grupo Sucateando, em conjunto com os artistas Luizana Pelissari e Almir Correia. “O que nós fizemos ali foi mostrar o lixo da civilização. Pegamos material de um ferro-velho para fazer as composições. Depois de expô-las a gente devolveu para que fosse dado o destino correto aos materiais”.

Defesa do meio ambiente

A última fase traz um trabalho que ainda está em composição. A obra “400 Lógica Reversa” João Carneiro está fazendo em conjunto com estudantes de Curitiba. A peça tem como fundo as molas de um colchão de solteiro, onde estão sendo afixadas embalagens de produtos, aparelhos eletrodomésticos estragados e todo tipo de coisa que pode ser reciclada, mas muitas vezes é descartada erroneamente na natureza. “Nesse trabalho estamos conscientizando as crianças, reafirmando este conceito da logística reversa que é lei, mas pouco observada, e precisa ser mais difundida para evitar que o plástico vá para os oceanos”, disse João, ao lado da professora do ateliê de artes infantis, Juliane da Silva SGantos, com quem trabalha o tema nas aulas no Centro Cultural da Vilinha do Bairro Alto.

Serviço: Exposição João Carneiro – 47 anos de arte

Local: Centro Cultural da Vilinha – Rua Marco Polo, 1560 – Bairro Alto
Abertura: 24 de junho, às 10h
Funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 17h
Evento gratuito

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