Nesta terça-feira a Câmara Municipal de Curitiba (CMC) continuou discutindo o ocorrido no sábado (5), quando manifestantes de um ato contra o racismo no Brasil invadiram a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Largo da Ordem.
Entre eles, estava o vereador Renato Freitas (PT), cuja participação na atividade é duramente criticada pelos parlamentares há dois dias.
Até aqui 19 vereadores já repudiaram a invasão, tratando-a como um desrespeito à liberdade de culto, tido como incompatível com o direito à manifestação.
Vereadores relataram em plenário a repercussão do ocorrido, como o destaque feito por Ezequias Barros (PMB) do pedido, pelo Twitter, do presidente Jair Bolsonaro, para que os ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos acompanhem o caso.
Osias Moraes (Republicanos) elogiou o secretário estadual da Justiça, Ney Leprevost, por requisitar que a Polícia Civil do Paraná realize investigações sobre o ocorrido.
Ao todo, na sessão de hoje, doze parlamentares se referiram ao caso.
Na segunda-feira (7), Freitas disse que o ato era um protesto pelos assassinatos do congolês Moïse Kabagambe e de Durval Teófilo Filho, no Rio de Janeiro.
Ele negou que o culto tenha sido interrompido e lembrou que a Igreja do Rosário, por ter sido construída por escravos, é um local simbólico para o movimento negro de Curitiba.
“As filmagens mostram que a igreja estava absolutamente vazia. Entramos e dissemos que nenhum preceito religioso supera o amor e a valorização da vida. Lá dentro, afirmamos isso e saímos ordeira e pacificamente, e eu desafio a qualquer um provar o contrário”, defendeu-se.
Notas de repúdio
“Eu recebi uma ligação ontem à noite de Thiago Vieira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Religião, e iremos protocolar um documento, a pedido dele, na Câmara, em relação à falta de postura do vereador do PT, Renato Freitas, colocando em perigo a nossa liberdade religiosa. Também recebi ligação dos diretores das Anajure [Associação Nacional dos Juristas Evangélicos], que se posicionaram em repúdio ao ato liderado pelo vereador”, informou o vereador Pastor Marciano Alves (Republicanos), para quem a invasão da igreja foi um ato de cristofobia.
Ezequias Barros leu, em plenário, uma nota de repúdio à invasão elaborada pelo Conselho de Ministros Evangélicos do Paraná (Comep), que chamou o ocorrido de “lamentável e injurioso episódio”, e que, na avaliação da entidade, “produziu danos morais incalculáveis”.
Também repercutiu nota do Núcleo de Pastores de Curitiba, que qualificou a invasão de “ato ofensivo de agressão, invasão e profanação do espaço da igreja”.
O parlamentar também citou comunicação da Federação de Igrejas Evangélicas do Brasil repudiando o ocorrido.
Osias Moraes acrescentou que a Unigrejas também recriminou a invasão.
“Foi uma cristofobia fora do comum”, comentou Oscalino do Povo (PP).
Ele informou que foi procurado pelo Instituto Gregoriano, pelo Movimento Familiar Cristão e pela Renovação Carismática, para apresentar protestos sobre o ato.
O vereador destacou a cobertura negativa na imprensa local, citando o noticiário da Gazeta do Povo, da Tribuna do Paraná e das mídias do Grupo RIC.
“Quero, em nome da bancada católica, me desculpar com a Igreja do Rosário, na figura do seu pároco, padre Luiz Haaz, com quem falei ontem e que está assustado desde o dia da ocorrência. Fiquei muito envergonhado com a postura do nosso colega. O comportamento do vereador não reflete e nem tem a concordância desta Casa”, relatou, em plenário, Sidnei Toaldo (Patriota).
Leonidas Dias (Solidariedade), Nori Seto (PP), João da 5 Irmãos (PSL) e Marcos Vieira (PDT) se somaram aos vereadores que repudiaram publicamente a invasão.
“Eu peço que [Renato Freitas] faça um pedido de desculpas à comunidade católica”, disse Serginho do Posto (DEM).
A comunidade católica exige um pedido de desculpas e digo isso pela história, pois os padres e as igrejas sempre caminharam com as bandeiras do povo. No tempo da ditadura, às épocas mais difíceis, políticos, jornalistas e professores buscavam refúgio nas igrejas”, lembrou o parlamentar, que a exemplo de colegas defendeu o direito à manifestação, desde que ele não entre em choque com outras garantias constitucionais, como a do culto religioso.
“O que eu vi foi uma missa interrompida, com senhoras de idade, que poderiam ser a minha mãe, a minha avó, e que poderiam ter enfartado ao ver um bando de marginais invadiram fazendo algazarra, com bandeiras com [desenhos de] foice e martelo, que é uma ideologia que sempre perseguiu cristãos. A liberdade religiosa não pode ser vilipendiada, sob risco de abrirmos precedente perigosíssimo”, discursou Eder Borges (PSD).
O parlamentar informou ter registrado uma representação na Casa contra o mandato de Freitas.
“Além de gravíssima quebra de decoro parlamentar, infringiu o artigo 208 do Código Penal”, acusou.
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