Esporte que levou 12 atletas brasileiros para as Olimpíadas de Tokio de 2020, o skate motivou debate debate na Câmara Municipal de Curitiba (CMC) em que entidades, atletas profissionais e praticantes apresentaram uma demanda em comum: a necessidade de mais investimentos públicos para a construção de pistas com qualidade e segurança na capital paranaense.
Entre os convidados estava a skatista da Seleção Brasileira Junior, Maitê Demantanova, de apenas 11 anos.
Campeã brasileira na modalidade bowlen 2018, na categoria open feminino da Confederação Brasileira de Skate (CBSk), a atleta entrou para a seleção em janeiro deste ano e sonha em se tornar campeã olímpica no esporte, mas o apoio que recebe hoje para os treinamentos é apenas dos pais, falta incentivo por parte do Poder Público, disse.
“Não existem pistas públicas para a minha modalidade. […] Apesar de fazer parte da seleção brasileira, não recebo Bolsa Atleta, porque em nosso país existe uma lei federal que impede pessoas menores de 14 anos de receberem. Por quê?”, indagou a convidada.
Outro skatista profissional e na lista dos 10 melhores atletas no ranking mundial em 2008, Vitor Simão argumentou que os atuais espaços para o skate – amador ou de alto rendimento – não comportam mais a demanda da população e isso pode prejudicar a prática.
Segundo ele, se uma cidade tem, por exemplo, 36 pistas de skate, todas precisam ter qualidade e oferecer segurança aos praticantes.
“Se a gente tem estrutura, a gente vai ter praticante, trabalho de base, cidadania, vai ter atletas e representantes olímpicos.”
Assim como os dois atletas, entidades que participaram do debate – promovido pelos vereadores Nori Seto (PP), Mauro Ignácio (DEM) e Marcelo Fachinello (PSC) – pediram que o Poder Público invista na construção de pistas e skate parks e se colocaram à disposição para ajudar na elaboração de projetos e consultoria em licitações para a execução das obras.
Vitor Simão, por exemplo, analisou que é preciso diversificar a estrutura das pistas, “padronizadas é regresso total para o esporte”.
“Pista de skate não é receita de bolo, não funciona desta maneira.”
Presidente da Associação Pra Skate, Fernando Johnson ressaltou que o skate deve ser encarado não só como um esporte de alto rendimento, como também um esporte de inclusão social e de transformação.
Para ele, com a construção de mais pistas, com projetos diversificados, será possível regionalizar várias modalidades, como o street park e o downhill.
Outra opinião levantada pelo ex-atleta – que em 1979 conquistou o 3º lugar no Campeonato Nacional de Skate – projetos desenvolvidos por gestões anteriores deveriam ter continuidade, independente de quem está à frente da Prefeitura de Curitiba.
Dados apresentados na audiência pública pela Pra Skate – levantados com base em pesquisa do Instituto DataFolha realizada em 2015 e encomendada pela CBSk – mostram que há 6 anos existiam cerca de 8,4 milhões de skatistas no Brasil.
No Paraná, conforme completou Raphael Peruzzo, conselheiro fiscal da Pra Skate, eram cerca de 133 mil praticantes, e em Curitiba, aproximadamente 82 mil.
“Hoje a probabilidade que esse número seja bem maior é factível, em função do crescimento do skate como esporte e do boom provocado pelo sucesso nas Olimpíadas de Tokyo”, disse ele, que é ex-atleta profissional das categorias child skates e eleven shapes.
O que diz a CBSk
Atualmente, segundo a Confederação Brasileira de Skate, existem pelo menos 104 projetos sociais no Brasil que atuam única e exclusivamente com o skate como projeto de transformação.
Presidente da entidade, Eduardo Musa explicou que o skate tem um grande desafio:
“a grande maioria dos esportes têm padrões de pista, de quadra, de jogo, mas o skate não tem isso, somos quase 14 modalidades”.
Ele também corroborou com a opinião de Vitor Simão, de que não é inviável padronizar projetos de pistas de skate.
“Não é ideal pegar um único projeto e ir reproduzindo em todos os lugares, porque senão a gente vai ter exatamente aquilo que a gente não precisa, que é a robotização e a não superação de limites”, afirmou.
Ele sugeriu que o Poder Público tenha apoio de empresas especializadas no esporte e da própria comunidade de skatistas em projetos públicos e construção dos editais de licitação.
Atualmente, a CBSk participa de 10 licitações com consultoria, para poder auxiliar prefeituras e garantir a qualidade técnica nos projetos.
“Uma pista de skate bem construída, bem projetada, fica cheia, não tem espaço para a marginalidade, a família comparece. Se ela é mal feita, mal projetada ou os dois, a pista fica vazia. Há desperdício de dinheiro público, o local fica abandonado e a imagem recai sobre os skatistas”, defendeu.
Fora a construção das pistas, acrescentou, o Poder Público também pode investir no apoio dos atletas na participação dos campeonatos.
O que diz a Smelj
Secretário municipal de Esporte, Lazer e Juventude, Emílio Trautwein explicou que Curitiba tem, hoje, 35 pistas de skate, “sendo quatro mais novas” e a ideia da gestão Rafael Greca é “ter pessoas cada vez mais praticando o esporte”.
Para isso, a prefeitura busca o entendimento da excelência do esporte e “tem utilizado a expertise para aprender sobre o skate”. Em 2022, projetos deverão ser executados e competições estão sendo programadas.
“Vamos trabalhar na parte da infraestrutura com o apoio da CBSk e da Federação Paranaense”, disse o secretário.
Sobre a fala de Maitê Demantanova, ele orientou que a Smelj tem um centro de referência de esporte e através da lei municipal de incentivo pode dar todo o apoio para quem procurar suporte fisioterápico, nutricional e outros. Também se colocou à disposição para buscar a melhor solução para atender os atletas de elite.
“Entendemos o skate como um modo de viver, que envolve diversos segmentos da sociedade.”
Também participaram do debate, os vereadores Alexandre Leprevost (Solidariedade), Hernani (PSB), João da 4 Irmãos (PSL), Jornalista Márcio Barros (PSD) e Sargento Tânia Guerreiro (PSL); além de Darlei dos Anjos, diretor de Esporte da Federação de Skate do Paraná; Cristiano Duarte Neto, o Cri Duarte, que representa o Instituto Tribunow de São Paulo e tri-campeão paulista de Longboard Downhill; e Giovando Romanine, representando a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA).